Biólogos e ambientalistas se surpreenderam ao identificar um pequeno grupo de garças-azuis em pleno Rio Capibaribe, no Centro do Recife. Os animais são mais comuns no Sul do país, mas raros nos mangues pernambucanos. Para os especialistas, esse é um sinal de que, mesmo poluído, o curso-d’água tem um grande potencial para alimentar e abrigar uma imensa biodiversidade, precisando urgentemente ser protegido e cuidado, o que vem sido defendido pelo projeto Parque Capibaribe, Caminho das Capivaras.
Há três meses, a equipe de biólogos e ambientalistas partiu em expedições pelo rio para fazer um levantamento completo da biodiversidade. Nascendo em Poção, no Agreste de Pernambuco, o Capibaribe percorre 240 quilômetros e, na capital, passa por 21 bairros. Nas águas escuras, são despejados esgotos domésticos e todo tipo de lixo.
Não é à toa que os ambientalistas mal acreditaram quando viram garças-azuis no manguezal na beira do rio. “Foi uma grata surpresa, foi uma grande surpresa na verdade”, admite o biólogo Leonardo Melo. O grupo de animais identificado é formado por duas adultas e uma mais jovem, com o pescoço marrom ainda mudando de cor.
O pescador Luís Cláudio de Lima percorre há 25 anos o Capibaribe e nunca tinha visto uma garça-azul. “Me admirei porque eu não sabia que existia uma qualidade de garças dessa, esse tipo de garça-azul”, conta.
Além das garças, inúmeras outras espécies são encontradas ao longo do rio, como crustáceos que alimentam famílias inteiras. “Esse é o sinal de alerta, ou seja, vamos fazer alguma coisa pelo Rio Capibaribe. Este rio é muito importante para o estado de Pernambuco”, defende o biólogo Severino Mendes Júnior. “Eu acho que o maior recado que ela passa é que o rio está vivo, vamos trabalhar este rio. Vamos devolver o rio para a cidade do Recife”, afirma o presidente do Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Recife, Roberto Montezuma.
Projeto de cidade-parque
O pedido de socorro teve resposta. Um grupo de 60 pesquisadores da universidades de Pernambuco e da Paraíba e consultores da Inglaterra, Espanha e Itália trabalham juntos num grande projeto para recuperar o rio. As propostas serão encaminhas à Prefeitura do Recife em junho. A idéia é criar um imenso parque ao longo de 30 quilômetros nas duas margens do Capibaribe.
[saiba_mais]“Nós queremos transformar Recife quase numa cidade-parque, a partir do rio a gente vai conseguir penetrar nos espaços verdes, a gente vai fazer uma rearborização das vias e a gente vai usar ele como um condutor de uma renovação urbana”, explica Circe Monteiro, coordenadora do projeto Parque Capibaribe, Caminho das Capivaras.
A ideia é que o parque abrigue áreas verdes, calçadas, ciclovias, passarelas, pontes para pedestres e áreas de lazer. “Esse é o grande desafio, trazer a população do Recife, principalmente do entorno, que a gente tem uma faixa de 500 metros, mais de 200 mil pessoas diretamente que podem andar até o rio, fora quem pode ir de bicicleta que é bem maior o ângulo, que poderão usar esta área como recreação, não é?”, explica o coordenador do parque, Luiz Vieira.
Um plano de urbanização e recuperação do meio ambiente que encontra exemplos em grandes rios no mundo, como o Tâmisa, na Inglaterra. “O Rio Tâmisa era o rio mais poluído do mundo, não é? E hoje é o rio que foi limpo”, lembra a professora da Universidade de Oxford, no Reino Unido, Maria Rita Kessler.
Por G1