A prefeitura do Rio prevê começar nesta quarta-feira, 18, as obras emergenciais de contenção do calçadão da Praia da Macumba, no Recreio dos Bandeirantes, na zona oeste da capital fluminense, que continua afundando. O desmoronamento provocado pela força das ondas começou há cerca de 30 dias e já atingiu 600 metros da orla. A erosão e destruição das estruturas costeiras têm se repetido em diferentes regiões do País. Segundo especialistas, isso evidencia problemas estruturais e a falta de preparo do poder público para lidar com a ação natural.

Segundo a Defesa Civil do Rio, não há risco imediato a prédios e casas da região, mas parte da ciclovia, quiosques e coqueiros já se perderam.

O problema é antigo e conhecido. Em 2000, um relatório do Coordenação de Programas de Pós-graduação e Engenharia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), a Coppe, já alertava para os riscos e sugeria alterações.

Nada foi feito. Em 2005, uma obra de ampliação do calçadão e de construção da ciclovia também não levou em conta os alertas. Agora, a prefeitura tentará reverter o desmoronamento.

“Trabalhamos durante todo o feriado, viramos madrugada, refizemos o projeto e hoje estamos iniciando as obras em caráter emergencial, extremamente necessárias para finalmente conter a erosão”, disse o secretário municipal de Conservação e Meio Ambiente, Jorge Felippe Neto, que assumiu o cargo há uma semana. A obra foi orçada em R$ 14,5 milhões, informou a secretaria por nota, com contratação de empresa em caráter emergencial.

Especialista em engenharia costeira da Coppe e um dos responsáveis pelo diagnóstico feito na região há 17 anos, Paulo Rosman afirmou que as obras na orla foram feitas sobre a chamada zona dinâmica da praia. Trata-se da faixa de areia que desaparece quando há ressaca, normalmente no outono e no inverno, e ressurge na primavera e no verão.

Rosman explicou que, durante décadas, o canal foi drenado e a areia retirada do local, levada para outros lugares em vez de ser devolvida à praia. “Isso reduziu o estoque de areia da praia, aproximando ainda mais o litoral da rua.”

Guarujá

Também era esperado, mas não deixou de ser um susto. Dias antes, o pedreiro Rumildo Ângelo Messias, de 70 anos, já havia retirado os guarda-sóis e as cadeiras de praia do quartinho temendo o que aconteceu há cerca de dois meses: o cômodo ruiu. Telhado, duas paredes e parte do piso foram derrubados com a força do mar, bem como parte de um barranco de areia, que deixou em evidência as raízes da vegetação. Parte do acesso da rua para a praia também foi danificada.

O pedreiro morou a vida toda no mesmo terreno em frente à Praia do Tombo, no Guarujá, litoral sul de São Paulo, que reúne três casas, uma das quais a atingida pela ressaca, embora estivesse desabitada. Segundo ele a faixa de areia costumava se estender por mais de 20 metros, permitindo a circulação de banhistas e dele próprio, que vendia lanches na praia até a última ressaca tomar a região. Ontem, o espaço da areia estava tão restrito, que reunia apenas surfistas. “É a força da natureza cobrando a conta”, diz.

Também no Guarujá, a Praia do Góes enfrenta mudanças. Morador da região desde 1969, o aposentado Valter Novas, de 67 anos, lembra que o mar costumava ficar mais distante há 30 anos. “Aqui era muito diferente, só tinha pescador, o pessoal andava de canoa, as caiçaras cortavam lenha em uma área que foi tomada pela água”, conta.

No caso da Praia do Góes, o principal motivo apontado por moradores, ambientalistas pela prefeitura do Guarujá é a dragagem do Porto de Santos. “A situação está descontrolada, fora do balanço natural”, comenta o oceanógrafo Fabrício Gandini, diretor do Instituto Maramar, uma organização da sociedade civil.

Para o secretário do Meio Ambiente do município, Sidnei Aranha, falta transparência da Companhia Docas do Estado de São Paulo (Codesp) sobre os impactos das atividades do porto. A Companhia Docas não respondeu aos questionamentos da reportagem na noite desta terça-feira, 17.

No caso da Praia do Tombo, a prefeitura do Guarujá afirmou estar firmando uma parceria com universidades da região para identificar se o fenômeno é efeito da erosão.

Nordeste

Esses efeitos abrangem todo o País, segundo o professor da Universidade Federal do Espírito Santo Dieter Muehe. Organizador de livro sobre o tema, ele estima que mais da metade do litoral do Norte e do Nordeste sofre erosão, chegando a um avanço do mar de cinco metros por ano em determinadas praias, número que seria de 20% na região Sudeste.

A situação preocupa no Rio Grande do Norte, onde o avanço do mar tem causado estragos e ameaçado vilas de pescadores em 60% das praias, segundo a Universidade Federal potiguar.

O litoral do Estado tem 440 quilômetros. As praias de Muriú, Touros, São Miguel do Gostoso, Graçandu e Caiçara do Norte, na parte norte, estão entre as mais atingidas pela erosão costeira. Nelas, moradores travam duelos contra a força do mar construindo muros de pedras e concreto cada vez mais largos e altos, para manter as casas de pé. Em Caiçara do Norte, por exemplo, o mercado público e três ruas da região central do antigo vilarejo de pescadores foi destruído pela força das ondas ao longo de 50 anos.

Recife e Olinda, em Pernambuco, tentam barrar o avanço do mar com uma linha de pedras no litoral. A realidade é que agora a erosão marinha se transferiu para praias mais ao norte do Estado. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo. 

Por Estadão Conteúdo

Prefeitura de Toritama abre celebração do Natal de Jesus 2024 com decoração no Parque Biblioteca Maria dos Anjos

Brasil pede desculpas oficiais pela escravização das pessoas negras

Resultado final do CNU será divulgado em 11 de fevereiro

×