Longe da segurança das áreas sem risco de alagamentos e à espera da construção das casas prometidas pelo governo desde junho de 2010, moradores de Água Preta e Barreiros –as duas cidades em calamidade pública em Pernambuco– superlotam prédios públicos e privado, sejam desativados ou em construção.
Com muitas famílias ainda ocupando abrigos improvisados desde a cheia do ano passado, a solução encontrada para fugir da nova cheia do rio Una, na última semana, foi ocupar qualquer lugar que parecesse seguro.
Em Barreiros, Lindnalva Bento da Silva, 45, voltou a ter casa invadida e a perder bens com a enchente do rio Una. Para se abrigar, ela ocupou, desde a última terça-feira (3), um contêiner da Hamburg Sud, uma empresa de transportes e logísticas, para se abrigar, ao lado dos três papagaios (Menininha, Lampião e Maria Bonita). “Nunca recebi nada de governo nenhum. Eu tinha pedido empréstimo para comprar 100 patinhos e galinhas, e perdi tudo. Os papagaios salvei trazendo eles em uma caixa”, disse
A nova morada, apesar de espaçosa (cerca de 40m²), tem um problema. “O calor é insuportável, mas é melhor que estar numa casa inundada”, afirmou.
Segundo a Defesa Civil municipal, o município tem 2.569 desabrigados, que estão em 32 locais. Na cidade, a rodoviária é o ponto que mais abriga vítimas da nova enchente. O pequeno prédio está com 686 pessoas, sendo 150 crianças. Antigos acampamentos e até o novo hospital, que ainda está em construção e não possui telha, estão lotados de desabrigados.
“O maior problema hoje da cidade é que ainda falta água encanada, e as pessoas não podem voltar porque as casas estão sujas e precisam ser lavadas. Mas como o número de casas destruídas é pequeno, essas pessoas podem voltar e, em caso de enchentes, a Defesa Civil alertará e voltará a abrigar essas famílias”, disse Simone Cavalcanti, psicóloga da prefeitura e responsável por acompanhar os desabrigados.
Água Preta com igrejas lotadas
Em Água Preta, o Fórum da cidade está ocupado por desabrigados. A praça central virou um grande varal para secar roupas. Todas as igrejas também abrigam famílias e, ao invés de orações, os prédios se tornaram pontos de abrigo de vítimas das cheias. Poliana Maria da Silva, 19 anos, está com a família na Igreja da Matriz, no centro da cidade, onde divide espaço com dezenas de móveis e pessoas que superlotam o local. “Tem muita gente aqui, porque todo mundo ficou com medo da chuva este ano e de acontecer o mesmo de 2010”, afirmou.
O padre Tadeu Rocha, responsável pela paróquia, contou ao UOL Notícias que o número de famílias que procurou o local é maior que o de 2010. “As pessoas estão vacinadas e com medo de perder tudo. Por isso, dessa vez, todos saíram de casa, não esperaram. Até minha casa recebeu desabrigados”, disse.
Segundo o secretário de Administração do município, Francisco de Assis, apenas uma das igrejas se recusou a receber desabrigados na cidade. “O pastor da Igreja Universal não liberou o prédio, nós consultamos o judiciário e, por conta do decreto de calamidade pública, arrombamos o local e colocamos lá algumas famílias. O pastor, depois, chegou a vir aqui, mas o prefeito se recusou a recebê-lo. Depois ele mandou os advogados aqui”, reclamou.
Na cidade, segundo a prefeitura, há 3.563 desabrigados em 37 pontos da cidade. “Estamos realmente com uma situação complicada, tentando dar qualidade de vida aos desabrigados. Nossa principal escola está com 578 pessoas, e a convivência em uma situação dessas é muito complicada”, afirmou.