O livro Fim abriu as portas para que a atriz Fernanda Torres entrasse no universo da literatura, mesmo “a contra-gosto do escritor e mentor João Ubaldo Ribeiro”, como ela mesmo assume. Nesta terça-feira (30), a atriz, que em novembro lançou seu segundo romance no Brasil, esteve em Lisboa para apresentar A Glória e Seu Cortejo de Horrores (R$ 26,90), durante o aniversário de três anos da editora Companhia das Letras Portugal.
O país é o primeiro lugar, fora do Brasil, onde a autora lança sua nova escrita e encara um público ansioso. O Cineteatro – A Barraca estave repleto de brasileiros e portugueses, e houve leitura de trechos do livro, feita pelo ator Marcos Caruso e pela própria Fernanda.
Na obra, a autora ainda se mantém no universo masculino, como em Fim, quando aborda a temática da morte, por meio do sarcasmo na maneira como conta a vida de cinco amigos e sua corrida ‘contra o tempo’.
Em A Glória e Seu Cortejo de Horrores, o personagem principal é homem e, conforme destaca Fernanda, “surgiu de maneira natural”.
“A desgraça masculina nos anos em que vivemos está tão em evidência que, para colocar um homem fracassado no centro da trama, foi como chutar cachorro morto. Foi, de certa forma, se solidarizar com a causa masculina”, diz Fernanda aos risos.
Ainda assim, ela não descarta a possibilidade de ter uma personagem feminina como destaque em um futuro livro. “O distanciamento do universo das mulheres, em que vivo há 52 anos e sei exatamente como é, termina por ser uma oportunidade de afastar a minha imagem do leitor. Ser, de certa forma, anônima”, confessa.
Seu Cortejo de Horrores
Em A Glória e Seu Cortejo de Horrores temos nas mãos um personagem que, segundo a própria Fernanda, não nasceu ator, mas tornou-se um para que o romance, que se passa nos anos 70, tivesse continuidade após a finalização do primeiro capítulo.
O romance só se desenrolou quando ela decidiu pôr um pouco da sua história no teatro, naquela que seria a trajetória do personagem principal. Um homem que inicia a carreira de forma política, com o teatro de esquerda, seguindo para o teatro do desbunde, até chegar ao “ápice”, enquanto galã de telenovelas.
Contratempos acontecem, até que ele termina em uma prisão. Por lá, seus dons servem para assumir um posto de “passador de trotes”. Para se aproximar desse universo, Fernanda resolveu visitar um presídio em São Cristóvão, no Rio de Janeiro, acompanhada pelo deputado Marcelo Freixo (PSOL), bastante ligado às causas dos Direitos Humanos.
A visita à penitenciária desencadeou outra parte de sua trama. O contato com um grande número de evangélicos a fez repensar como seria essa suposta guinada na carreira de seu personagem. Dali até parar em novelas bíblicas foi um pulo. “Onde eu vim parar”, diz o personagem principal, prestes a entrar em cena, vestido de “Simbad, o Marujo”, enquanto passa as mãos pelas coxas de uma das figurantes, dançarina de dança do ventre.
Novos projetos
E já que o ano está só começando, Fernanda aproveita para falar sobre seus projetos em 2018. Como ela destaca, serão 365 dias de muitos trabalhos de atuação, mas também marcado por uma oportunidade inédita e desafiadora: ver seu primeiro livro na televisão. Ela está escrevendo a adaptação de Fim, que ganhará uma minissérie de 10 capítulos na TV Globo, com previsão de estreia ainda este ano.
Por Aline Galvão