As medidas anunciadas pelo Brasil nesta quarta-feira para impedir a queda do dólar, visando conter a especulação, deverão ter apenas um efeito de curto prazo sobre a cotação da moeda americana, que deve continuar sendo motivo de preocupação para o governo por mais tempo, segundo afirmam analistas entrevistados pela BBC Brasil. O Diário Oficial da União desta quarta-feira publicou uma Medida Provisória que autoriza a cobrança de até 25% de IOF (Imposto sobre
Operações de Crédito, Câmbio e Seguros, ou Imposto sobre Operações Financeiras) em negociações de títulos ou valores mobiliários com contratos de derivativos.
O derivativo é um ativo financeiro cujo preço deriva de outro ativo. As operações com derivativos servem geralmente como proteção contra a oscilação dos preços futuros, mas funcionam também como uma aposta dos investidores em quedas maiores do dólar.
Após o anúncio, o dólar comercial chegou a subir 2%, em um pico de R$ 1,57, mas fechou com valorização de 1,35%, a R$ 1,559. Na terça-feira, a moeda americana havia sido cotada a R$ 1,53, menor valor em 12 anos.
Especulação
Em coletiva de imprensa nesta quarta-feira, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, afirmou que a nova medida visa combater a especulação com o mercado futuro de dólar.
“Há excesso de dólares vendidos no mercado futuro. Estão apostando que o dólar vai se desvalorizar ou que o real vai se valorizar e eles ganham quando isso acontece”, disse.
Para o economista Alexandre Schwartsman, a especulação é apenas uma parte do processo de valorização do real frente ao dólar. Segundo ele, o cenário externo, com os Estados Unidos e a Europa em crise, e a alta do preço das commodities fazem com que a moeda brasileira mantenha uma tendência de apreciação.
“O câmbio está reagindo da maneira como ele deveria reagir”, disse Schwartsman à BBC Brasil. “(A valorização do real) parece muito mais um resultado dos outros fatores que determinam a variação do câmbio”.
O economista acredita que o dólar deverá se manter na faixa entre R$ 1,50 e R$ 1,55 nos próximos meses.
Já o professor de Macroeconomia e Finanças do Insper José Luiz Rossi afirma que a taxação das operações com derivativos terá uma eficiência de curto prazo, possivelmente diminuindo o ritmo de queda do dólar, pela diminuição das posições dos investidores.
“No entanto, em vez de adotar o capital de curto prazo, o mercado deverá adotar os de médio e longo prazo, mantendo o fluxo de capitais e investindo no Brasil de qualquer jeito”, diz Rossi.
Para o professor do Insper, as previsões de crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) brasileiro para os próximos anos, embora representem uma baixa em relação a 2010, dão uma perspectiva de tranquilidade para que os investidores estrangeiros continuem injetando capitais no País.
“Os investidores olham o cenário lá fora e veem essa incerteza, depois eles olham para o Brasil e veem um ambiente mais tranquilo, então apostam aqui.”
Inflação
Schwartsman também avalia que a entrada de capital externo deverá fazer com que o resultado das medidas do governo seja de curto prazo, e afirma que, se por um lado, a taxação dos negócios com derivativos deve desacelerar a alta do real, por outro, terá o efeito de pressionar a inflação, embora não de forma decisiva.
“O câmbio não é um instrumento pra isso (controlar a inflação), mas nos últimos meses ele tem sido uma força no sentido de manter disciplinados alguns preços, ao favorecer as importações”, diz o economista.
“Se estivéssemos em um momento de menor pressão inflacionária, a influência do câmbio talvez sequer seria notada.”
Por BBC