Nem todas as nossas autoridades – ou praticamente nenhuma delas, em qualquer nível, de qualquer crédito – perceberam ainda o grau de tensão social que o país atravessa.
Ele está batendo em nossos olhos todos os dias, mas há aqueles que não querem ver e aqueles que olham para a situação como se fosse apenas um fato pontual aqui, outro ali.
O Brasil está insatisfeito, impaciente e começa a ficar perigosamente intolerante. As pessoas, principalmente as que têm mais carência, não parecem mais dispostas a esperar e dão sinais de descrença nas autoridades/políticos e instituição.
As reações a isto descambam para a depredação, a violência (esqueça-se os black blocs) e, assustadoramente, às vezes para a justiça pelas próprias mãos.
Nesta terça-feira, em São Paulo e no Rio, tivemos mais uma demonstração deste “estado de espírito” social. Que já está se tornando uma paisagem quase corriqueira no dia a dia das grandes cidades do país.
Em Osasco, na região metropolitana paulista, ma madrugada, um grupo invadiu uma garagem e incendiou 34 ônibus, em protesto contra a morte de um jovem suspeito de ser ligado ao tráfico. Este pode ser um caso ligado à reação do crime organizado, mas São Paulo já registrou, este ano ano, mais de 100 ônibus queimados em protestos contra a qualidade dos serviços.
No Rio, à noite, como reação à morte de um morador, bailarino de um programa da TV Globo, moradores do Morro do Pavãozinho, em Copacabana, Zona Sul da cidade, interditaram ruas e túneis do bairro, com depredações e incêndios. O resultado foi grande tumulto, lojas fechadas, um morto e pelo menos um ferido.
A respeito da justiça pelas próprias mãos aconselha-se uma reportagem publicada na semana passada pelo jornal espanhol “El País” em sua edição digital em português. O texto registrava que num curto período de menos de 15 dias haviam ocorrido no país pelo menos dez casos de linchamento. Casos como aquele menino amarrado num poste no Rio de Janeiro recentemente já não são incomuns. O sociólogo José de Souza Martins tem um estudo aterrador sobre o assunto, ser lançado brevemente.
Isto tudo é fruto de perda da confiança nos poderes públicos e na incapacidade da política de apresentar soluções para os problemas do cotidiano do brasileiro. É grave.
Por Ig