As imagens do circuito interno da cadeia pública José Frederico Marques no dia em que o ex-governador Anthony Garotinho (PR) diz ter sido agredido foram editadas, segundo perícia feita pelo Ministério Público do Rio.
Peritos do Dedit (Divisão de Evidências Digitais e Tecnologia) do MP-RJ apontaram três fragilidades nas imagens usadas pela Seap (Secretaria de Administração Penitenciária) para afirmar que não houve invasão à cela do ex-governador.
De acordo com a promotoria, o conjunto de gravações do caso apresentou “interrupções atípicas”, imagem congelada e evidência de “interferência humana” na captação dos vídeos.
Garotinho foi preso no dia 22 de novembro e ficou detido, inicialmente, na galeria A com outros presos. O ex-governador Sérgio Cabral (MDB), seu rival político, ficava na C até ser transferido para Curitiba nesta quinta (18).
No dia seguinte, ele foi levado para a galeria B, uma ala que estava desativada. Único preso no local, ele afirma ter sido agredido na madrugada do dia 24. Segundo seu relato, um homem bateu em seu joelho com um porrete e pisou em seu pé.
“Depois apontou uma pistola dizendo: ‘Você não vai morrer hoje para não sujar para o lado do pessoal ali’, apontando para a galeria do pessoal da Lava Jato”, afirmou Garotinho.
TRANSFERÊNCIA
À época, a Seap afirmou que as imagens não detectaram entrada de nenhum suspeito na cela de Garotinho. Agentes declararam à imprensa que o político se auto agrediu para forçar a transferência para Bangu 8, o que acabou ocorrendo.
O vídeo disponibilizado pela Seap para a imprensa mostrava uma gravação até as 22h58 do dia 23, retornando à 1h56, com Garotinho batendo palmas para chamar os agentes e relatar a suposta agressão. A pasta declarou na ocasião que o sistema paralisa a captação de imagens quando não há movimento.A perícia do MP, contudo, afirma que há evidência de “interrupções atípicas caracterizadas por corte durante a movimentação de pessoas na área de captura da câmera”. O trecho se refere à câmera 4, que filmava a galeria B.
“O ponto-chave da interferência humana como fator determinante na inatividade das câmeras é notado pelo corte em meio ao movimento de um agente que transita no pátio. Ou seja, o sistema que durante todo o tempo grava até mesmo nuances de luminosidade é cortado bruscamente no meio do percurso do movimento que justamente é o gatilho da gravação”, diz a perícia.
MANIPULAÇÃO
Outro indício de manipulação encontrado foi o congelamento da câmera 3, que também filma a galeria em que estava Garotinho naquela noite. Enquanto a 4 registrou o bater de palmas do ex-governador para chamar os agentes, a 3, virada para o mesmo local, não filmou o movimento.
“Outra incompatibilidade pode ser verificada no arquivo Câmera3_20171124000454, câmera 03, localizada na Galeria B, onde se nota o prosseguimento da gravação no período de 00:05:02 até 01:53:27, apesar da ausência de movimento – imagem congelada. Comparando o conteúdo analisado nos arquivos Câmera4_20171123170859 e Câmera3_20171124000454, ambos na Galeria B, nota-se que a câmera 4 registra o bater de mãos do preso, fato que não é observado no mesmo horário da câmera 03, confirmando tecnicamente o congelamento da imagem da câmera 3”, diz o documento.
A perícia aponta ainda que o acesso à galeria C tinha um “ponto cego” no videomonitoramento da cadeia.
A investigação sobre a suposta agressão a Garotinho foi assumida pelo Gaesp (Grupo de Atuação Especializada em Segurança Pública), responsável pelas investigações de regalias a Cabral que culminaram na transferência.
“O monitoramento por câmeras em Benfica é tosco, facilmente manipulável. Qualquer pessoa que passa pode plugar, desplugar. Ter um sistema de monitoramento ridículo, pífio, faz parte do contexto [de benefícios a Cabral]”, disse Andréa Amin, do Gaesp.
De acordo com os peritos, os dois sistemas usados na cadeia são adequados para o monitoramento residencial. Com informações da Folhapress.