O Congresso vive a expectativa de que uma possível segunda denúncia contra o presidente Michel Temer, desta vez por obstrução de justiça e formação de organização criminosa, seja apresentada pelo Procurador-geral da República, Rodrigo Janot, a qualquer momento.
Janot encerra o mandato à frente do Ministério Público Federal (MPF) no próximo dia 17, quando será substituído por Raquel Dodge. Até lá, deve agir. Temendo o pior, o presidente já acionou os ministros Eliseu Padilha, da Casa Civil, e Moreira Franco, da Secretaria-Geral da Presidência, na tentativa de convencer os deputados a não prejudicá-lo.
De acordo com a coluna Expresso, da Época, um dos argumentos usados é que não há necessidade de “pôr azeitona na empada” de Rodrigo Janot, que está prestes a deixar o cargo?
Temer também se reuniu com Rodrigo Maia e aliados do Planalto, antes de sua viagem à China – de onde só retorna nesta terça-feira (5) -, com o objetivo de traçar um panorama sobre o cenário que encontraria, entre a base governista, caso precise se defender de mais uma investigação.
Segundo o colunista Lauro Jardim, de O Globo, alguns ministros disseram, no entanto, que a realidade “pintada” por Maia não foi das mais animadoras. Segundo o presidente da Câmara, muitos dos aliados estão insatisfeitos com as promessas feitas por Temer, para se livrar da primeira denúncia, e que ainda não foram cumpridas.
Depois de uma ameaça de rebelião em sua base, Temer até tentou amenizar os ânimos e começou a demitir mais de uma centena de aliados de deputados que votaram a favor da denúncia contra ele. Segundo informações da Folhapress, o número chegaria a cerca de 140. No entanto, parece que os efeitos positivos não foram sentidos.
“Desde o momento seguinte à votação da última denúncia, o governo vem tentando reorganizar a base. O presidente ainda não conseguiu se safar dessa realidade que é a fragilidade da base. Se de fato vier uma nova denúncia, quanto maior o desgaste, mais corroída fica a relação dele com a base. Vamos ver se vai vir essa denúncia, se é consistente. Se tiver, entorna o caldo”, opinou o líder do PSD, Marcos Montes (MG), na semana passada.
Temer já foi alvo de uma denúncia anteriormente, por corrupção passiva, mas conseguiu rejeitá-la no plenário da Câmara, durante votação ocorrida no último dia 2 de agosto.
Para piorar, agora, o presidente não pode mais liberar verbas em troca do apoio de deputados, como fez na ocasião da primeira denúncia, visto que já gastou grande parte da cota de emendas para acalmar os parlamentares.
Além disso, a presença do ministro Antônio Imbassahy (PSDB) na articulação política segue provocando a ira dos partidos do “centrão”, que fecharam apoio a Temer na votação, mas não ficaram satisfeitos com o espaço conquistado após a rejeição do processo. Reclamam que partidos como PSDB, que votou dividido, continua com privilégios exagerados e à frente de quatro ministérios.
“A base apresenta certa vulnerabilidade. E é imprevisível o que vai acontecer, dependendo dos elementos da nova denúncia”, disse o líder do DEM, deputado Efraim Filho (PB), ao jornal O Globo. Ele também comenta que Temer ainda não começou a mobilizar a tropa aliada para se defender de uma nova flechada de Janot.
A denúncia contra o presidente se baseia nas delações de executivos da JBS. Joesley Batista, um dos sócios da empresa, chegou a entregar aos investigadores da Lava Jato um áudio contendo conversa entre ele e Temer, durante encontro fora da agenda presidencial, no Palácio do Jaburu. Na ocasião, o empresário conta que “comprou” um procurador para atrapalhar as investigações da força-tarefa, e que está pagando uma mesada ao ex-deputado Eduardo Cunha, a fim de mantê-lo em silêncio na prisão.
Antonio Cruz/Agência Brasil